terça-feira, 20 de junho de 2017

UMA ROSA DE PAUL CELAN


QUIMICAMENTE

Silêncio, fundido como ouro, em
mãos
carbonizadas.

Grande, cinzenta,
forma-irmã
próxima como tudo o que se perdeu:

Todos os nomes, todos aqueles
nomes queimados
juntamente. Tanta
cinza por abençoar. Tanta
terra ganha
sobre
os leves, tão leves
anéis
da alma.

Grande. Cinzenta. Sem
escórias.

Tu, outrora.
Tu com a flor
pálida, mordida.
Tu na torrente de vinho.

(Não é verdade que também a nós
nos despediu este relógio?
Bom,
bom, como a tua palavra passando por aqui morreu.)

Silêncio, fundido como ouro, em
mãos carbonizadas,
carbonizadas.
Dedos, finos como fumo. Como coroas, coroas de ar
ao redor — —

Grande. Cinzenta. Sem
rasto.
Ré-
gia.


Paul Celan (n. 23 de Novembro de 1920, Czernowitz, Bucovina, Roménia - m. 20 de Abril de 1970, Paris), in Sete Rosas Mais Tarde, selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno, Edições Cotovia. 2.ª edição, Abril de 1996,  pp. 107-109.

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